quarta-feira, 24 de outubro de 2012

OS OUTROS


Nunca estamos de acordo com o que os outros fazem
e vivemos sozinhos sem pensar nos outros,
como lobos famintos espreitando os outros,
convencidos de que os outros são nosso alimento.

Os erros são vasos que jogamos nos outros,
os acertos nossos e nunca dos outros.
Em cada passo, uma tentativa de pisar nos outros,
cada vez é mais violenta a batida da porta no rosto dos outros.

As verdade ofendem quando os outros as dizem,
as mentiras são vendidas quando os outros as compram.
Somos mesquinhos juízes dos valores dos outros,
mas não permitimos que os outros no julguem.

Apagamos a luz que, por amor aos outros,
aquele que morreu pelos outros acendeu em uma cruz.
Porque são amarras entender os outros,
caminhamos sempre no escuro, sem pensar nos outros.

Nosso tempo é precioso; não, porém, o dos outros;
nosso espaço é valioso, mas não o dos outros.
Consideramo-nos pilotos do caminhar dos outros;
onde estivermos, que nos suportem os outros.

Condenamos a inveja, quando os outros invejam,
mas quanto à nossa, decididamente, os outros não a entendem.
Julgamo-nos seletos entre todos os outros,
seres mais-que-perfeitos com relação aos outros.

Esquecemos que somos os outros dos outros,
que temos costas como todos os outros,
que carregamos nelas, uns menos e outros mais,
vaidade e modéstia como todos os outros.

E esquecendo que somos os outros dos outros,
nos fazemos de surdos quando chamam os outros,
porque é estupidez escutar os outros,
tachamos de mania o amor pelos outros.

Alberto Cortez

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