domingo, 18 de novembro de 2012

NÃO MUDE


Durante anos fui um neurótico, um ser angustiado, deprimido e egoísta. Todo mundo insistia em me dizer que mudasse e não deixavam de me lembrar como eu era neurótico.
Eu não em ofendia, e, embora estivesse acordado com essas pessoas e desejasse mudar, não conseguia, por mais que tentasse.
O piro era que meu melhor amigo também não deixava de me lembrar como eu era neurótico. Além disso, insistia na necessidade de que eu mudasse. Eu também concordava com ele e não podia ofender-me, de maneira que me sentia impotente, como se estivesse preso.
No entanto, certo dia ele me disse: “Não mude. Continue sendo como você é. Na realidade, não importa que você mude ou deixe de mudar. Eu o amo como você é, e não posso deixar de amá-lo.”
Aquelas palavras soram aos meu ouvidos  como uma música: “Não mude, não mude, não mude ... eu amo você.”
Então e tranquilizei, me senti vivo e ... ó maravilha: mudei!
Agora sei que, na realidade, não podia mudar até encontrar alguém que me amasse, independentemente de que eu mudasse ou deixasse de mudar.
É assim que me amas, meu Deus?
Anthony de Mello 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

OS OUTROS


Nunca estamos de acordo com o que os outros fazem
e vivemos sozinhos sem pensar nos outros,
como lobos famintos espreitando os outros,
convencidos de que os outros são nosso alimento.

Os erros são vasos que jogamos nos outros,
os acertos nossos e nunca dos outros.
Em cada passo, uma tentativa de pisar nos outros,
cada vez é mais violenta a batida da porta no rosto dos outros.

As verdade ofendem quando os outros as dizem,
as mentiras são vendidas quando os outros as compram.
Somos mesquinhos juízes dos valores dos outros,
mas não permitimos que os outros no julguem.

Apagamos a luz que, por amor aos outros,
aquele que morreu pelos outros acendeu em uma cruz.
Porque são amarras entender os outros,
caminhamos sempre no escuro, sem pensar nos outros.

Nosso tempo é precioso; não, porém, o dos outros;
nosso espaço é valioso, mas não o dos outros.
Consideramo-nos pilotos do caminhar dos outros;
onde estivermos, que nos suportem os outros.

Condenamos a inveja, quando os outros invejam,
mas quanto à nossa, decididamente, os outros não a entendem.
Julgamo-nos seletos entre todos os outros,
seres mais-que-perfeitos com relação aos outros.

Esquecemos que somos os outros dos outros,
que temos costas como todos os outros,
que carregamos nelas, uns menos e outros mais,
vaidade e modéstia como todos os outros.

E esquecendo que somos os outros dos outros,
nos fazemos de surdos quando chamam os outros,
porque é estupidez escutar os outros,
tachamos de mania o amor pelos outros.

Alberto Cortez

domingo, 14 de outubro de 2012

FAÇAMOS UM TRATO


Companheira,
você sabe
que pode contar
comigo,
não até dois
ou até dez,
senão contar comigo.
Se alguma vez
notar que a olho nos olhos
e um vislumbre de amor
reconhecer nos meus,
não prepare os seus fuzis
nem pense que deliro,
apesar do vislumbre,
ou talvez porque existe,
você pode contar comigo.
Se outras vezes
me achar
aborrecido sem motivo,
não pense que é fraqueza;
pode contar igualmente comigo
Façamos, porém, um trato;
gostaria de contar com você;
é tão lindo saber que você existe,
a gente se sente vivo,
e quando digo isso,
quero dizer, contar
ainda que seja até dois,
ainda que seja até cinco.
Não para que venha já
apressada
em meu auxílio
e sim para saber
com certeza
que você sabe que pode
contar comigo.

Mario Benedetti

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

SER

"O verdadeiro fracasso é não ser para o que se é."

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Superficialidade no falar

Quem nunca conheceu as profundezas do mar jamais poderá delas falar, continuará a caminhar pela superfície da praia, limitando-se a falar somente das ondas do mar.
Ir. Gisele

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

PAI


Pai
Pai, agora que não estou mais no tempo de alimentar ilusões, aguça meus pensamentos para que eu perceba a beleza das realidades.
Pai, agora que as opções foram feitas e tantas portas se fecharam no definitivo, dá-me aceitação para que as renúncias não sejam um fardo pesado demais.
Pai, agora que as somas dos erros derrubou as jovens ilusões de onipotência, não me tires a pretensão de continuar tentando acertar.
Pai, agora que tantos desenganos e incompreensão repetiram lições de ceticismo, conserva minha boa fé e minha disponibilidade perante as criaturas.
Pai, agora que as forças do meu corpo começaram a falhar, alerta meu espírito, livra-me do comodismo e redobra minha vontade.
Pai, agora que já aprendi a precariedade de todas as coisas, as limitações de todas as lutas e as proporções de nossa pequenez, afasta-me do desânimo.
Pai, agora que já alcancei o ponto de perspectiva que me dá a exata visão do pouco que sei, livra-me da defesa fácil de colocar viseiras e ajuda-me a envelhecer com a abertura dos corajosos, dos que suportam revisões até a hora da morte.
Pai, agora que aumenta o círculo das criaturas que me olham e esperam alguma coisa de mim, dá-me um pouco de sabedoria, ensina-me a palavra certa, inspira-me o gesto exato, norteia minha atitude.
Pai, agora que perdi a abençoada cegueira da juventude e só posso amar de olhos abertos, redobra a minha compreensão, ajuda-me a superar as mágoas, protege-me da amargura.
Deus Pai, concede-me a graça de não cair na desilusão, de não chorar o passado, de continuar disponível, de não perder o ânimo, de envelhecer jovem, de chegar à morte com reservas de amor.
Carmita Overbeck

quinta-feira, 28 de junho de 2012

LÁGRIMAS

Quem já derramou lágrimas compreende o peso que ela tem. Compreende?
Lágrimas são sinais?
Alguns dizem que ela é dor, outros amor.
Uns, que ela é mágoas passadas.
Emoções e lembranças.
Saudade e ausência.
Mas também alegria e vitória.
Epa! Será?
Quem disse que a vitória é fácil?
A lágrima pode emergir da dor lembrada no momento da vitória.
Alegria? Conquistada com muitos sacrifícios e renúncias.
E se assisto a um filme, choro.
Lágrimas de quê? Ninguém me machucou durante o filme!
Ah! acho que já fui machucada ou ainda estou nesta condição.
Explicar uma lágrima não é fácil. Muitas então!?
E será que quantidade muda o significado delas?
Eis uma boa questão!
Será que a lágrima vem do coração?

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Silêncio: escute-o

"Se você não consegue entender o meu silêncio de nada irá adiantar as palavras, pois é no silêncio das minhas palavras que estão todos os meus maiores sentimentos."
Oscar Wilde

Minha cor preferida


sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

SOLIDARIEDADE

Estender a mão para o outro,
como se fosse apanhar uma estrela
ou um lírio ou o perfume inteiro
de um bosque.


Estender a mão para o outro
no gesto mais puro e antigo,
assim como mergulhar um cântaro
num poço de águas profundas,
conhecidas e desconhecidas.


Tocar com as mãos o mistério do outro,
para entender o próprio mistério.


Alcançar o outro no que ele tem
de diverso e espelho,
e no seu rosto enxergar
o próprio rosto e a palavra
humanidade.


Roseana Murray