Nunca
estamos de acordo com o que os outros fazem
e
vivemos sozinhos sem pensar nos outros,
como
lobos famintos espreitando os outros,
convencidos
de que os outros são nosso alimento.
Os erros
são vasos que jogamos nos outros,
os
acertos nossos e nunca dos outros.
Em cada
passo, uma tentativa de pisar nos outros,
cada vez
é mais violenta a batida da porta no rosto dos outros.
As
verdade ofendem quando os outros as dizem,
as
mentiras são vendidas quando os outros as compram.
Somos
mesquinhos juízes dos valores dos outros,
mas não
permitimos que os outros no julguem.
Apagamos
a luz que, por amor aos outros,
aquele
que morreu pelos outros acendeu em uma cruz.
Porque
são amarras entender os outros,
caminhamos
sempre no escuro, sem pensar nos outros.
Nosso
tempo é precioso; não, porém, o dos outros;
nosso
espaço é valioso, mas não o dos outros.
Consideramo-nos
pilotos do caminhar dos outros;
onde
estivermos, que nos suportem os outros.
Condenamos
a inveja, quando os outros invejam,
mas
quanto à nossa, decididamente, os outros não a entendem.
Julgamo-nos
seletos entre todos os outros,
seres
mais-que-perfeitos com relação aos outros.
Esquecemos
que somos os outros dos outros,
que
temos costas como todos os outros,
que
carregamos nelas, uns menos e outros mais,
vaidade
e modéstia como todos os outros.
E
esquecendo que somos os outros dos outros,
nos
fazemos de surdos quando chamam os outros,
porque é
estupidez escutar os outros,
tachamos
de mania o amor pelos outros.
Alberto
Cortez